A MORAL É POLIÉDRICA. UMA GREVE EM CONTRAMÃO, por CARLOS MATOS GOMES

 

 

A realidade é sempre plural, o bem e o mal dependem de quem os aprecia. Isto a propósito da onda de greves e agitação que varre a Europa Ocidental e que não deixou esta ponta do Ocidente fora da moda, trazendo nesta fase as reivindicações de professores, pessoal de saúde e ferroviários, a que se seguirão, camionistas, funcionários públicos, pilotos, tudo bem animado pela comunicação social.

A minha primeira reação foi a de considerar que esta agitação teria como consequência o desenvolvimento de propostas autoritárias de governo, que o sobreaquecimento dos conflitos sociais redundaria em ruturas políticas, com concentração de poder num grupo ainda mais restrito e repressão sobre futuros candidatos a protestantes.

Entendia eu que os atuais movimentos sindicais, em vez de reivindicarem melhores salários, deviam atacar a causa e que essa se situa na política de apoio à guerra dos Estados Unidos contra a Europa e a Rússia, uma guerra que reduz a riqueza produzida na Europa por via do apoio à Ucrânia (os fundos da UE foram redistribuídos), do aumento do preço da energia, das sanções económicas que se viraram contra os europeus. Parecia-me má pontaria (tiros nos pés) os sindicatos pedirem aumentos a um governo a quem foi imposta pelo Estado Suserano uma cota para pagar a destruição do seu estado de bem-estar, o regime contratualista e a distribuição negociada da riqueza criada com energia barata e mercados abertos. Parecia-me tão contrária ao senso como a política de sanções europeias que fizeram boomerang.

Mas não, pensando bem, os sindicatos europeus, incluindo os portugueses, que hoje se aprontam para o combate em Lisboa, como já aconteceu noutras capitais, estão no caminho certo. Estão no caminho certo porque ao exigirem aumentos aos seus governos obrigam-nos a desviar fundos que iriam para os oligarcas ucranianos, para as empresas de armamento e para os militares e funcionários do Zelenski. Tudo o que os sindicatos europeus conseguirem sacar aos seus governos são menos Leopardos, Baterias, helicópteros, misseis, salários de ucranianos que alimentam a guerra, são menos fundos para comprar o caríssimo gás dos EUA e para o complexo militar americano. É menos dinheiro para a dona Ursula levar para Kiev!

Nas primeiras eleições para a assembleia Constituinte um partido m-l, a AOC (Aliança Operário Camponesa), apresentou como argumento para lhe comprarem o voto o slogan: Um espinho cravado na garganta de Cunhal! As greves do funcionalismo europeu, e dos trabalhadores em geral bem podiam aproveitar o slogan: Espinhos na garganta do Biden, do Zelenski, da Úrsula, do Borrel!

Na comédia Lisístrata, de Aristófanes, as mulheres recusaram o sexo aos homens enquanto durasse a guerra. Os sindicatos europeus de hoje, com as suas greves, são as mulheres da antiga Atenas. Ou há dinheiro para eles, ou não há dinheiro para o Zelenski.

Parece-me um excelente programa de paz. Há muitas maneiras de matar pulgas, ou de dar a volta aos problemas. Que cada greve seja um Leopardo a menos, um sermão a menos do Zelenski, um morto a menos!

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